//A escola que mudou a vida de Ailton

A escola que mudou a vida de Ailton

Setenta e uma latas de alumínio pesam um quilo. Cada quilo rende R$ 2,50 aos catadores de recicláveis. São contas como essa que Ailton Santana, 33, quer deixar de fazer no futuro. Desde o primeiro semestre deste ano frequentando a Escola Municipal Poeta Paulo Bandeira da Cruz, no Ibura de Cima, se debruça sobre outros números, com o intuito de realizar um curso técnico de mecânica e formalizar um emprego.

Em busca do conhecimento teórico dos livros, a vida de Ailton mudou. Mais pela solidariedade que tem encontrado pelos corredores, entre uma aula e outra, que pela alfabetização conquistada. Há um mês, recebeu dos outros alunos cerca de quatro mil latinhas de alumínio e mais de mil garrafas PET, recolhidas enquanto aprendiam sobre os cuidados necessários com o meio ambiente.

Para completar, o material foi doado no dia do seu aniversário, após um “parabéns” que jamais tinham lhe cantado. Ficou atônito quando saiu da sala da psicopedagoga que visita às tardes, pelas dificuldades de aprendizado, e viu o bolo. Créditos da sensibilidade da diretora, Andreza Cabral. “É o que me impressiona aqui. São pessoas humildes ajudando que é ainda mais pobre”, revelou.

Os recicláveis foram transformados em R$ 105. O dinheiro, transformado em melhorias no amontoado de tábuas e telhas brasilit que ele teima em chamar de casa. Lâmpadas, bocais, pregos. Mas o barracão está envergando e o chão ainda é lama tanta que esconde o que foi um tapete em tempos de mais sorte e menos chuva. Sobre a pouco digna moradia, a solidariedade dos próximos na escola também deve exercer influência: os professores se mobilizaram e, assim que o inverno passar, pagarão por uma estrutura de tijolos.

Ailton começou a trabalhar com recicláveis desde menino. “Troquei o estudo pelo trabalho. Agora quero estudar mecânica. Hoje trabalho aos domingos, porque é quando as pessoas bebem”, contou o homem que fala pouco e sorri muito. O sorriso frágil próprio de quem não vê maldade no outro. “É tão bom que o povo faz de besta. Faz bico a semana toda na casa de alguém e recebe R$ 15”, conta a amiga de infância que cuida de Ailton desde a adolescência, Francilene Silva, 28.

Ela quem construiu, com os filhos, o barraco numa barreira. O cuidado é tanto que o leva para as sessões de psicopedagogia na escola. É mais uma que trabalha pelo crescimento dele enquanto tece mais um fio da rede de solidariedade que protege a Cohab. Via: Folha PE

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