//Hospital atende 17 voluntários que tiveram reações após contato com óleo em São José da Coroa Grande

Hospital atende 17 voluntários que tiveram reações após contato com óleo em São José da Coroa Grande

Dezessete voluntários que ajudaram a remover óleo de praias de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul de Pernambuco, foram atendidos no hospital com sintomas provocados por reação ao produto. Entre eles estavam: dor de cabeça, enjoo, vômitos, erupções e pontos vermelhos na pele. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, as notificações começaram a ser feitas na sexta-feira (18), um dia depois de as manchas chegarem ao município

A Secretaria de Saúde informou que não houve internamentos nem foi preciso remover doentes para outras unidades. Além dos voluntários, houve atendimentos a pelo menos quatro militares. A pasta disse também que eles foram atendidos pela Marinha.O diretor clínico do Hospital Osmário Omena de Oliveira, Marcello Neves, informou ao G1, por telefone, nesta quarta-feira (23), que foram registrados dois tipos distintos de reação ao óleo que contaminou as praias.Sessenta por cento dos atendimentos, segundo ele, foram de paciente com problemas de pele, por causa do contato com a substância. “Nesse caso, as pessoas tiveram dermatite de contato, apresentando coceiras e feridas na pele, além de dor de cabeça”, declarou.

 Voluntários retiram óleo em São José da Coroa Grande, no Litoral Sul de Pernambuco — Foto: Antonio Coelho/TV Globo

Os outros 40% dos pacientes tiveram reações por inalar os gases que saem do óleo, de acordo com o médico. “Eles também tiveram dor de cabeça e apresentaram enjoos, que é um sintoma diferente”, comentou.Neves disse também que todos os pacientes foram tratados com medicações específicas para cada caso. “Quem chegou com as reações cutâneas, tomou corticoides, por exemplo, e fez hidratação”, comentou.A maioria dos atendimentos ocorreu no sábado (19), segundo a Secretaria de Saúde de São José da Coroa Grande. Nesta quarta (23), no entanto, mais um paciente procurou o serviço de saúde, apresentando sintomas.

Claudmir Silva foi ao hospital nesta quarta-feira (23) para informar que estava passando mal depois de ter atuado como voluntário na contenção do óleo em São José da Coroa Grande, em Pernambuco — Foto: Antonio Coelho/TV Globo

Agente comunitário de saúde, Claudemir dos Santos Silva, de 31 anos, trabalhou como voluntário na sexta-feira (18), ajudando as pessoas que estavam retirando o óleo da praia. Mesmo sem ter contato direto com o produto, disse que teve muita dor de cabeça, enjoo forte, dor de garganta e sensação de desmaio.“Minha língua ficou dormente e me deixou preocupado. E eu nem toquei no óleo só fui olhar os toneis, por curiosidade. Inalei aqueles gases”, disse.Claudemir disse que demorou a procurar o serviço de saúde por achar que os sintomas iriam passar logo. “Como a gente trabalha em posto de saúde, acha que está tudo normal. Pedi remédio aos meus chefes e fique tomando. Como não passou, foi ao hospital agora”, declarou.Servidora pública municipal, Carla Accioly disse que trabalhou como voluntária logo depois e que o óleo chegou a São José da Coroa Grande e que ainda sentia os sintomas nesta quarta-feira. “Estou com falta de ar. O cheiro é muito forte”, afirmou.Carla disse também que já esteve no hospital e precisou volta para a unidade de saúde. “Estou há quase uma semana deste jeito, me sentindo mal”, declarou.

 Carla Accioly afirmou que sentiu falta de ar após trabalhar como voluntária na ação contra o óleo em São José da Coroa Grande, em Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

Procedimentos

Passado o atendimento emergencial, a rede municipal de saúde dará início a uma segunda fase de acompanhamento desses pacientes. O médico Marcello Neves informou que é preciso saber se houve subnotificação de casos ou se algum paciente teve mais problemas de saúde.“Vamos fazer a busca ativa dessas pessoas para saber se eles tiveram mais reações depois de voltar para casa e como estão agora. Como São José é uma cidade de menor porte, é possível que alguém tenha buscado ajuda em outros municípios da região”, afirmou.Secretária de Saúde de São José da Coroa Grande, Tarciana Mota informou que, diante do problema, a rede pública está orientando profissionais de saúde a fazer a notificação obrigatória de casos de reações ao óleo.Uma campanha teve início nas redes sociais para alertar voluntários para os riscos do contato com a substância e para a necessidade de buscar atendimento em caso de problema.“Fizemos um relatório municipal e orientamos os procedimentos. Estamos aguardando informações do governo a respeito de como atuar”, disse a secretária.A enfermeira chefe do hospital, Camila Tavares, disse que as informações sobre o atendimento seguem para a Secretaria Estadual de Saúde e depois para o Ministério. Segundo ela, o problema é a subnotificação. “Dezenas de pessoas podem ter tido o problema e não foi registrado”, afirmou.

 Voluntários retiram óleo da Pedra do Xaréu, no Cabo de Santo Agostinho, Litoral Sul de Pernambuco — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Saúde

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que, até esta quarta, tinam sido notificados 16 casos de intoxicação, sendo 15 em São José da Coroa Grande e um em Ipojuca, no Grande Recife.Ainda de acordo com a pasta, todos os casos apresentaram sintomas leves, como vômito, náusea e ardência nos olhos, “sem a necessidade de uma atenção de maior complexidade”.A secretaria informou, ainda, que o protocolo de atendimento para estes casos recomenda o tratamento de acordo com a sintomatologia clínica. O estado ressalta, no entanto, que entre os casos notificados há alguns que não estão relacionados diretamente ao óleo, mas ao uso de solventes para a retirada do produto.A secretaria recomenda que as pessoas devem evitar o uso de solventes, como querosene, gasolina, álcool, acetona e tinner, para remoção do petróleo achado nas praias. É indicada a utilização de óleo de cozinha (óleos de origem vegetal), ou outros produtos contendo glicerina ou lanolina.Também, por meio de nota, o governo informou que, desde o início da semana, enviou recomendações aos serviços de saúde sobre a necessidade da notificação imediata dos possíveis casos de intoxicação apresentados por pacientes após o contato com o produto que atingiu as praias.A nota informativa, diz a secretaria, foi enviada às 12 Gerências Regionais de Saúde (Geres) e à rede de assistência de cada região, alertando sobre sinais e sintomas característicos da intoxicação exógena, além de outras recomendações.A orientação é que as unidades de saúde e profissionais que atuam nos serviços façam a notificação de forma imediata, por meio da ficha de notificação, seguindo o fluxo de rotina que já se realiza junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) para este tipo de evento.

Óleo chega à Praia do Janga, no Litoral Norte de Pernambuco

Cidades afetadas

São José da Coroa Grande foi o primeiro município de Pernambuco a registrar as manchas de óleo este mês. Nesta quarta (23), o governo federal reconheceu o decreto de situação de emergência na cidade. A portaria foi publicada no Diário oficial da União.Também nesta quarta, o óleo atingiu praias em Jaboatão dos Guararapes e em Paulista, no Grande Recife.Além dessas três cidades também foram contaminadas praias de Tamandaré, Sirinhaém, Rio Formoso, Barreiros, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho.No balanço divulgado na noite de terça-feira, o governo estadual informou que 489 toneladas de óleo haviam sido retiradas das praias, em seis dias, contando desde a quinta-feira.O material está sendo levado para um centro de tratamento de resíduos, onde é transformado em combustível para indústrias.

Funcionários da Prefeitura de Tamandaré, no estado de Pernambuco, trabalham na retirada de óleo da praia dos Carneiros, nesta sexta-feira (18). — Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM/ESTADÃO CONTEÚDO

Caminhos do óleo

As manchas de óleo começaram a ser registradas no final de agosto e no começo de setembro em Pernambuco e na Paraíba. As praias pernambucanas estavam limpas desde o dia 25 de setembro, quando voltaram a ser atingidas pela substância no dia 17 de outubro.Na sexta-feira (18), o óleo chegou até praias de Tamandaré, como a paradisíaca Praia dos Carneiros, de Sirinhaém e Barreiros. No sábado (19), praias de Ipojuca, vizinhas a Porto de Galinhas, foram atingidas.No domingo (20), o óleo chegou às praias de Suape, Calhetas, Itapuama, Xaréu e à Ilha de Tatuoca, no Cabo de Santo Agostinho. Voluntários e equipes se uniram para retirar o material da água, da areia e do mangue.Outras praias do município foram atingidas na segunda (21), mesmo dia em que voluntários escreveram pedidos de socorro na areia e de luvas e trator. Foi também na segunda que o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), anunciou que o Exército ia passar a atuar na limpeza do litoral nordestino.Na terça (22), a limpeza continuou nas praias do Cabo de Santo Agostinho. Desde a quinta (17) até a terça (22), foram recolhidas 489 toneladas de resíduo das praias do litoral do estado.

Governo e pesquisadores se reúnem para discutir efeitos do óleo nas praias de Pernambuco

Ações no estado

O governo de Pernambuco anunciou, nesta quarta, o lançamento de um edital de R$ 2,5 milhões para 12 projetos de pesquisa sobre os atuais e futuros impactos desse desastre para o meio ambiente e a economia.O anúncio foi feito após uma reunião com pesquisadores e representantes de secretarias estaduais no Palácio do Campo das Princesas, no Centro do Recife.Na terça (22), militares do Exército começaram a atuar na remoção do óleo, após determinação do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB). O trabalho teve início na praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho.Também na terça (22), o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, veio a Pernambuco para articular ações emergenciais em resposta aos danos causados pela substância.Além de Canuto, também estiveram em Pernambuco os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva.De acordo com especialistas, o impacto do óleo no meio ambiente vai durar décadas, com prejuízo para espécies marinhas, para toda a cadeia alimentar e para os seres humanos.Além do recobrimento de praias, arrecifes, mangues e solos rochosos, que são difíceis de serem limpos, os fragmentos se decompõem e há moléculas nocivas ao ecossistema e à fauna.Via:G1

Site:Guia Pernambuco