//Papai Noel no ano inteiro: pernambucanos dedicam-se a ações solidárias e espalham o bem para além de dezembro

Papai Noel no ano inteiro: pernambucanos dedicam-se a ações solidárias e espalham o bem para além de dezembro

ão é difícil associar o mês de dezembro a trocas de presentes, principalmente por causa da figura do Papai Noel, que distribui alegria por onde passa. Em outros meses do ano, no entanto, os Noeis – mamães ou papais – não usam trajes vermelhos ou longas barbas brancas, mas recompensam as pessoas com muito mais do que bens materiais.

O homem das doações

Para explicar as mais de 170 doações de sangue feitas ao longo de 61 anos, o pernambucano Ricardo Silva não demonstra presunção ou vaidade, mas deixa clara a razão das frequentes visitas a hemocentros. “É um ato de amor, né?”, diz, simplificando, em poucas palavras, a grandiosidade dos gestos.

As doações começaram nos anos 1970, quando um colega de trabalho passou por um procedimento cirúrgico e precisou de reposições sanguíneas durante o procedimento. A assiduidade, por sua vez, foi assumida no ano seguinte à inauguração da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope). “Lembro que o Hemope inaugurou em novembro de 1977. Eu fui pela primeira vez lá em fevereiro do ano seguinte”, conta.

Mais tarde, depois de 11 doações, Ricardo assumiu de vez o compromisso de presentear o próximo com uma parte de si. “Um filho meu precisou passar por cirurgia, se internou no hospital e conseguimos as bolsas de sangue sem nenhuma dificuldade. Em 2011, eu passei por uma cirurgia de coluna, também precisei e não foi difícil conseguir”, afirma o doador, demonstrando que a solidariedade é uma via de mão dupla.

“Não custa nada doar. Independentemente de quem vai receber, eu tenho prazer em fazer isso. Só estou triste porque, por causa da idade, vou ter que reduzir as doações para duas ou três vezes no ano, no máximo, mas vou continuar firme. Até os 70 eu vou, se Deus permitir”, explica o doador, que encontra, a cada três meses, uma oportunidade de presentear quem precisa.

Água, sabão e amor

A rotina de Clara Paschoal, 26, parecia incompleta antes de criar um grupo solidário solidariedade que promove banhos para moradores de rua no Recife. “Eu sentia que precisava fazer alguma coisa. Fiquei parada por um tempo, mas aproveitei o período de Quaresma de 2016 para fazer alguma coisa, já que eu tinha formação católica e não praticava”, comenta a jovem.

Pão, queijo e presunto foram os ingredientes iniciais da receita de solidariedade, feita por mais de duas mãos. “Comecei entregando alguns sanduíches no Centro do Recife com os meus irmãos, mas com o tempo, eles pararam de ir e eu queria continuar fazendo isso. Chamei alguns amigos até mesmo para dividir os custos e não ir sozinha, então foi se espalhando e pessoas que eu não conhecia foram se juntando a quem já fazia a ação”, conta.

A cada novo membro, a rede de solidariedade – a essa altura, já intitulada Recife do Bem – surgiam, também, novas ideias para fazer com que o outro, sobretudo os que estão em situações de vulnerabilidade social, se sentisse visto, sentido, contemplado.

“Um dos voluntários viu que, em Vitória da Conquista, na Bahia, havia um projeto para oferecer banho em moradores de rua. É uma coisa tão básica, porque quando a gente chega em casa depois de um dia cansativo, a gente só quer tomar um banho. Essas pessoas vivem na rua e não têm direito a isso”, reflete Clara. Posta em prática com ajuda de “vaquinhas” online e de patrocinadores, a ideia do “Banho do Bem” surgiu em agosto de 2016 e, desde então, oferece, a cada segunda-feira, mais do que uma oportunidade de higiene a quem participa.

“Isso já se tornou parte de mim, do que eu sou. Se eu olhar para as coisas que já fiz na vida, essa foi provavelmente a mais incrível. Acredito que a nossa vida só tem sentido se a gente fizer sentido na vida do outro. Não quero que nunca mais na vida alguém passe por mim, rico ou pobre, e se sinta invisível. É pouco o que a gente faz, mas é enorme na sua pequenez”, conclui a voluntária, que espalha as boas ações pelos outros meses do calendário além de dezembro. Fonte: G1PE

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