//Sisu amplia migração estudantil

Sisu amplia migração estudantil

Desde a implementação do Sisu, tem sido cada vez mais comum a diversidade de sotaques nos corredores das universidades federais. Isso porque o sistema de seleção permite que os feras concorram com facilidade a vagas em outros estados. Eles já saem da cidade natal com a garantia da aprovação, sem precisar mais arcar com os custos de organizar uma viagem apenas para realizar a prova.

Apenas na primeira edição do Sisu, em 2010, a taxa de mobilidade foi de 25%. Os números retratam alunos que precisaram mudar de estado e carregaram consigo suas culturas, costumes e repertórios. Victor Almeida cursa medicina na Universidade Federal de Pernambuco e chegou ao Estado há dois anos. Veio da capital cearense diretamente para a Capital pernambucana. Deixou em Fortaleza um irmão gêmeo, que por ter sido aprovado na UFCE, não se mudou para Recife junto com ele.

A mudança de endereço lhe proporcionou uma visão mais ampla sobre a diversidade cultural do seu País.“Culturalmente falando, o maior choque que tive aqui não foi com relação à Cidade em si, mas a mistura de culturas dentro da universidade. Lá eu conheço gente de todos os Estados e acabo conhecendo um pouquinho de cada coisa”, contou Victor.

Saindo em busca de um lugar melhor para viver, explorando tudo o que a terra dá e depois partindo para outro lugar, eles são chamados migrantes estudantis. A pesquisadora Denise Leyi Li pesquisa sobre os efeitos das mudanças provocadas pelo Sisu e o quanto isso contribuiu para a modificação dos perfis dos estudantes de universidades públicas. “A migração por migrar varia de forma significante entre grupos populacionais. Os estudantes representam um grupo de interesse particular, contando com uma literatura própria, que busca compreender a decisão de migração tanto internacional como entre regiões de um mesmo País”.

Larissa Lins faz parte do grupo de migrantes estudantis, mas fez o caminho contrário dos que migram em busca de um curso na UFPE. Ela saiu de Pernambuco e encarou as barreiras financeiras e geográficas para realizar o sonho de estudar na Universidade de Brasília (UNB). Chegou à capital do Brasil em fevereiro, mas por conta da demora na liberação de vagas na casa do estudante e sem poder gastar com aluguel, precisou ficar hospedada na casa de um parente nos últimos meses.

“Aqui só são oferecidas 20 vagas por período. Passamos por uma seleção super criteriosa e eu só pude me mudar nesta semana. Se eu não tivesse a casa da minha tia para passar esse tempo eu teria que voltar pra Recife. Ia morar onde?”, questionou..

Professor de cursinho há mais de 15 anos, Salviano Feitoza afirmou que pôde perceber a mudança de expectativa dos alunos dentro de sala de aula. “Eles já começam a contar a mudança de endereço como uma das possibilidades. No entanto, vale lembrar que isso é muito mais viável para as turmas de classes sociais mais abastadas”, explicou Salviano.

Como o Sisu é apenas o sistema seletivo, os alunos aprovados devem arcar com todos os gastos referentes a mudança, moradia e alimentação. Apesar de as Universidades Federais apresentarem programas de assistência financeira e casa do estudante, muitas vezes esses benefícios demoram meses para serem concedidos, como no caso das dificuldades enfrentadas pelos migrantes estudantis.

Ainda de acordo com Salviano Feitoza, pelo fato de o Sisu ocasionar um fluxo migratório estudantil ainda em expansão, não é possível medir as consequências reais dessa mudança no futuro. No entanto, ainda de acordo com ele, tais mudanças precisam ser consideradas tanto pelo ponto positivo quanto negativo.

“São dois lados da mesma moeda. Ao mesmo tempo que precisamos considerar que os estudantes que não possuem condições financeiras estruturadas não conseguem se mudar para estudar, não podemos esquecer que tal sistema de integração promove um intercâmbio cultural riquíssimo”, declarou. Via: Folha PE

Site: Guia Pernambuco