//Monitor da Violência: Pernambuco tem a terceira pior taxa de homicídios do país, em 2017

Monitor da Violência: Pernambuco tem a terceira pior taxa de homicídios do país, em 2017

com 57,3 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) a cada 100 mil habitantes, Pernambuco registrou a terceira pior taxa de homicídios, em 2017. Nos 12 meses do ano, o estado contabilizou 5.427 assassinatos, marca mais expressiva desde 2004, ano inicial da divulgação das estatísticas desse tipo de crime pela Secretaria de Defesa Social (SDS). O estado perde apenas para o Rio Grande do Norte, cujo índice chegou a 64, e para o Acre, que atingiu 63,9 casos.O número de homicídios registrado em Pernambuco é 21,1% maior do que os 4.479 assassinatos contabilizados em 2016. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes, seguindo a tendência de aumento na violência no estado, também saltou. Em 2016, o índice era de 47,3 casos.Os números fazem parte do levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. O dado, inédito, contabiliza todos os homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, que, juntos, compõem os chamados crimes violentos letais e intencionais (CVLI).Além dos dos dados do ano passado, uma página especial foi desenvolvida para mostrar mês a mês os números disponíveis sobre CVL.Monitor da Violência: especialista fala sobre a situação em PEO levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Jornalistas do G1 espalhados pelo país solicitaram os dados via Lei de Acesso à Informação seguindo o padrão metodológico utilizado pelo fórum no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado normalmente no fim do ano.Crescimento dos homicídios Do total de assassinatos contabilizados no ano passado, 5.142 foram registrados como homicídio doloso, outros 248 como latrocínio (roubo seguido de morte) e 37 como lesão corporal seguida de morte. Em janeiro deste ano, a SDS registrou 451 casos de CVLI, dos quais 440 foram classificados como homicídios dolosos e 11 como latrocínios. Neste período, não houve registro de vítimas de CVLI por lesão corporal.Monitor da Violência: indicado pelo governo fala sobre a situação em PernambucoUma das tipificações dos assassinatos no estado é a de ‘feminicídio’, que é quando o CVLI ocorre por motivos relacionados ao gênero. De acordo com a SDS, foram registrados 240 casos de assassinatos de mulheres, em Pernambuco, durante o ano de 2017. Desses, 76 foram caracterizados como feminicídios.Em 2016, foram 169 assassinatos no total, dos quais 111 tiveram como agravante o crime de gênero. Em 2015, Pernambuco ainda não tipificava os feminicídios e, por isso, não houve registros do crime, apesar de 245 mulheres terem morrido violentamente no estado naquele ano.Caso MirellaUma das vítimas da violência em Pernambuco, durante 2017, foi a fisioterapeuta Tássia Mirella de Sena Araújo, de 28 anos, morta pelo vizinho, o empresário Edvan Luiz da Silva, no dia 5 de abril, no flat onde morava, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. De acordo com a polícia, a jovem foi vítima de violência sexual e tortura, e morreu após levar um corte no pescoço tão profundo que quase a decapitou.O dia da morte de Mirella foi instituído pelo governo como Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, crime tipificado também em 2017, substituindo a nomenclatura ‘crime passional’ nos boletins de ocorrência que se referem a registros de homicídios contra mulheres no estado.Pais de Mirella, Suely e Wilson Araújo lembram com saudade do jeito alegre e da militância ferrenha da filha pelos direitos das mulheres. Para a mãe de Mirella, a morte da filha, dentro de casa, é um símbolo panorama da violência no estado.Suley e Wilson Cordeiro, pais de Mirella, afirmam perdoar assassino da filha (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)“Ela decidiu sair da casa dos pais justamente porque viajava muito, a trabalho, e tinha que sair de madrugada para o aeroporto, de onde o apartamento é bem próximo. De fora, a gente vê esses casos, na televisão, se choca, mas nunca imagina que vai acontecer com você. E Mirella estava sempre falando, criticando, postando na internet sobre violência contra a mulher. Ela viu um caso uma vez, no carnaval, e foi para cima, defender a vítima. Ela nunca aceitou. Tanto que os policiais disseram que houve muita luta corporal durante o crime. Ela lutou até o fim”, disse Suely Araújo.Preso um dia após a morte de Mirella, Edvan Luiz foi denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e deve ir a juri popular, em data que ainda vai ser marcada. Ele vai responder pelas práticas de estupro e homicídio quadruplamente qualificado. A perícia da Polícia Civil concluiu que havia sangue de Mirella no apartamento de Edvan e que, sob as unhas da vítima, havia restos da pele do acusado, o que justificou os arranhões no braço do criminoso.Pais de Mirella Sena, Suely e Wilson Cordeiro falam sobre militância da filha assassinada no Recife (Foto: Pedro Alves/G1)”Não quisemos saber o que aconteceu e de que forma aconteceu o crime, porque para nós, não importa. Claro que sabemos alguma coisa, seja pela mídia ou pela polícia, mas preferimos nos preservar. No juri, inclusive, podemos nos reservar o direito de deixar a audiência caso haja exposição de fatos muito fortes”, explicou Wilson Araújo, pai da vítima.Sobre o responsável pela morte da filha, Suely conta que ele e o pai de Mirella o perdoaram pelo crime, mas ainda buscam por justiça e lembram, diariamente, do obscuro destino imposto à filha, que começou a morar sozinha quatro meses antes de morrer.”Tanta coisa acontece com quem cometeu crimes como ele e vai parar onde ele está [na prisão], mas a gente não deseja isso para ele. Queremos, apenas, que ele pague pelo crime que ele cometeu. Porque eu acredito que Mirella não foi a única vítima dele. Deve haver outras, e a justiça divina também será feita, acima de todas as outras”, explicou Suely.Além de tristeza, a morte da fisioterapeuta também provocou a indignação de parentes, amigos e de pessoas chocadas com o crime, que fizeram passeatas e protestos para pedir a condenação de Edvan e tornar Mirella um símbolo do combate à violência contra a mulher.Segundo os pais, frequentemente o casal é convidado para falar sobre a luta da filha, seja antes ou depois da morte, ou mesmo para confortar familiares de outras mulheres assassinadas.”Mirella viveu tudo o que queria. Conseguiu tudo o que sonhou, muito precocemente. A gente vê esse tipo de crime acontecendo todo dia, e a memória de Mirella cada dia mais nos lembra da importância da luta contra a violência. Nos chamam pra consolar famílias, para falar sobre o tema. Aceitamos sempre, porque é o que ela queria”, completou Suely.Via :g1.globo

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